Enquadramento e Objetivos

Apesar de se verificar, atualmente, uma diminuição do abandono escolar, este continua a ser elevado (18,9%) [1]. Portugal tem cerca de 30% de jovens diplomados, contudo, este crescimento ainda não é suficiente para alcançar a meta nacional de 40%, números que deixam o nosso país nas últimas posições entre os estados membros da EU com maior número de diplomados. Em 2013, Portugal ocupava o 19.º lugar entre os 27 Estados-membros da EU [2].

Ao analisarmos as taxas de conclusão ao nível do ensino secundário e superior verificamos que estão abaixo da média da OCDE, levando Portugal a repensar as estratégias que poderão responder aos desafios para garantir que todos os alunos completem o ensino e formação superior e proporcionar a todos uma educação de qualidade e inclusiva, de acordo com as necessidades do mercado de trabalho [3]. Assim, importa desenvolver e implementar medidas tendentes a potenciar os resultados de aprendizagem e sucesso académico. Apesar de no relatório da OCDE [3] serem preconizadas várias medidas de política educativa e programas de intervenção que têm como objetivo melhorar todas as metas da educação, estas são medidas macro sistémicas que deixam de fora a possibilidade de as implementar em contextos específicos de Instituições de Ensino Superior. Mais especificamente, programas que garantam o envolvimento de todos os agentes educativos que promovam o sucesso e performance académica, possibilitem a melhoria do clima relacional nas escolas e contribuam para uma maior satisfação pessoal, académica e profissional; e a um nível microsistémico, medidas que promovam o aumento das competências pedagógicas dos professores na relação professor-aluno, bem como a melhoria da motivação e compreensão por parte dos estudantes, da necessidade de se escolarizarem e da correspondente imprescindibilidade de se envolverem e implicarem ativamente no seu processo de realização académica.

Uma grande parte do processo de aprendizagem e das relações entre os diferentes atores escolares decorre nas salas de aulas. Os alunos experienciam com muita frequência emoções nas aulas” [4]. Efetivamente, esses espaços têm um impacto importante na aprendizagem e no rendimento dos alunos, para o qual também contribuem as competências emocionais dos professores [5].

Os resultados de aprendizagem e sucesso académico têm sido objeto de atenção de várias investigações, nomeadamente sobre variáveis com eles relacionadas, tais como a origem social e demográfica dos alunos, recursos pedagógicos e de aprendizagem, estilos de aprendizagem, fatores cognitivos e de personalidade dos alunos, características e qualidades dos professores e o seu relacionamento com os alunos ([5] [6] [7] [8] [9] [10] [11]).

A inteligência emocional no processo de ensino/aprendizagem tem também sido alvo de atenção por parte da comunidade científica. Conclui-se que os programas de desenvolvimento de competências emocionais em professores têm um impacto positivo em várias áreas relacionais em contexto educativo ([5] [6] [8]). Por outro lado, conclui-se que os programas de intervenção em alunos e professores com impacto nas competências sociais e emocionais dos primeiros, diminuem os seus problemas de comportamento ([5] [7]) e enfatizam o valor adaptativo das emoções e a importância da regulação emocional nesses atores.
Sendo um fenómeno multifatorial, em que o tipo e a qualidade das relações interpessoais que se estabelecem são cruciais para o desenvolvimento harmonioso dos alunos, na sua condição simultânea de alunos e cidadãos, torna-se também necessário compreender a relevância das competências emocionais dos estudantes na relação educativa com impacto no sucesso e performance académicos.

A importância das competências socioemocionais tem sido enfatizada ao longo das últimas décadas. Nos anos de 1990, o surgimento do “paradigma do desenvolvimento humano”, proposto pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a publicação do Relatório Jacques Delors, (UNESCO), representaram um importante marco para o debate sobre a importância de uma educação integral, nas várias dimensões do ser humano como um todo.
Alguns resultados de investigações realizadas revelam que os alunos que têm competências socioemocionais mais desenvolvidas apresentam maior facilidade em aprender os conteúdos académicos. Para o autor, o sucesso dos estudantes universitários está ligado a características, tais como, o otimismo, a resiliência e rapidez na socialização, algumas das competências que integram a Inteligência Emocional.
Aproximar o ambiente escolar do desenvolvimento de competências socioemocionais cria espaço para aprendizagens mais completas e tem impacto no bem-estar ao longo de toda a vida. O mundo atual é bastante complexo, mas o mais importante, segundo o pesquisador belga, é compreender porque é que algumas pessoas lidam melhor do que outras com esta complexidade. Para atingir este objetivo, as escolas do século XXI precisam de perceber como motivar os seus alunos e focá-los nas aprendizagens, ajudá-los a conhecer o que gostam de estudar, como preferem aprender, o que os faz desistir, quais os erros que eles cometem com maior frequência e quais as emoções que vivenciam quando fracassam ou desistem.

Também o abandono escolar no ensino superior tem vindo a ganhar maior visibilidade política e social e tem, igualmente, constituído objeto de reflexão por parte da comunidade científica e das instituições de ensino superior (IES). Afigura-se-nos que a relação deste fenómeno com as competências emocionais do estudante é efetiva. São competências que fazem parte da nossa personalidade e permitem que compreendamos os nossos sentimentos e os sentimentos dos outros e façamos a sua gestão nas relações interpessoais, sendo que estas fazem parte da inteligência social que inclui as relações com outras pessoas e capacidades sociais, como a empatia, aceitação da opinião dos outros e a capacidade de viver, trabalhar e colaborar com os outros
Neste sentido e tendo como base os pressupostos anteriores, definimos como objetivo geral do estudo diagnosticar e sistematizar os dados relativos ao abandono e insucesso académico no Instituto Politécnico de Viseu, nos seus diferentes domínios e áreas disciplinares. Como objetivos específicos pretendemos: identificar fatores preditores do sucesso e performance académica no Ensino Superior; identificar eventuais padrões de insucesso e abandono nos domínios estudados; analisar determinantes das competências emocionais dos estudantes e a sua relação com o sucesso académico; identificar os eventuais fatores que podem influenciar a decisão de abandono do ensino superior e, por fim, identificar as prioridades de intervenção de natureza preventiva e sugerir linhas de ação promotoras do sucesso.

Pretende-se levar a cabo um estudo não experimental, analítico e correlacional, de corte transversal, em que serão desenvolvidas e validadas escalas, tais como, a Escala Performance de Aprendizagem, adaptada de Young et al. (2003); a Escala de Motivos para Evasão do Ensino Superior (M-ES), adaptada de Ambiel (2015), a Escala de Inteligência Emocional (ESCQ) Faria, L., Lima Santos, N. (2005) e o Questionário de Vivências Académicas (QVA-r), de Almeida, Soares e Ferreira (2002). Recorrendo à análise fatorial confirmatória, serão desenvolvidos modelos de explicação causal através das equações estruturais, com recurso ao programa Lisrel 8.8.

Bibliografia

[1] Fundação Francisco Manuel dos Santos. Retrato de Portugal PORDATA. 2014, abril; 1ª edição. Lisboa.
[2] Dias, M. Três preocupações do CNE – Análise aos últimos anos lectivos. Público. 10 Abril 2013: 9.
[3] OECD. OECD Economic surveys: Portugal. 2014; OECD Publishing.
[4] Pekrun, R. As emoções e a aprendizagem. In UNESCO (Org.), Academia Internacional de Educação. Série Práticas Educativas. 2007; Bruxelas: UNESCO.
[5] Jennings PA, Greenberg MT. The prosocial classroom: Teacher social and emotional competence in relation to student and classroom outcomes. Review of Educational Research. 2009; 79 (1), 491-525.
[6] Payton JW, Wardlaw DM, Graczyk P A, Bloodworth M R, Tompsett CJ, Weissberg RP. Social and emotional learning: A framework for promoting mental health and reducing risk behavior in children and youth. Journal of School Health. 2000; 70 (5), 179-185.
[7] Greenberg MT, O’ Brien RP, Zins JE, Resnik LF, Elias MJ. Enhancing school-based prevention and youth development through coordinated social emotional, and academic learning. American Psychologist. 2003; 58 (6-7), 446-474.
[8] Catalano RF, Berglund ML, Ryan JA, Lonczak HS, Hawkins JD. Positive youth development in the United States: Research findings on evaluation of positive youth development programs. The ANNALS of American Academic of Political and Social Sciences. 2004; 591, 98-124.
[9] Durlak JA, Weissberg RP, Dymnicki AB, Tylor RD, Schellinger KB. The impact of enhancing student’s social and emotional learning: A meta-analysis of school-based universal interventions. Child Development. 2011; 82 (1), 405-432.
[10] Kornilova TV, Kornilov SA, Chumakova MA. Subjective evaluations of intelligence and academic self-concept predict academic achievement: Evidence from a selective student population. Learning and Individual Differences. 2009; 19, 596-608.
[11] Costa C, Cardoso AP, Lima MP, Ferreira M, Abrantes JL. Pedagogical interaction and learning performance as determinants of academic achievement. Procedia – Social and Behavioral Sciences. 2015; 171, 874-881. doi:10.1016/j.sbspro.2015.01.203

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