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Asma em crianças dos 6 aos 9 anos. Um estudo populacional em duas cidades portuguesas (Porto e Viseu).
HENRIQUE BARROS**, CARLOS PEREIRA**, PEDRO MATEUS**
* Trabalho financiado pela Comissão de Fomento da Investigação em Cuidados de Saúde do Ministério da Saúde – PI40/97
** Serviço de Higiene e Epidemiologia, Faculdade de Medicina do Porto
Resumo
Objectivo: Quantificar a prevalência de asma em crianças com idades compreendidas entre os seis e os nove anos de idade, residentes no Porto e em Viseu, duas cidades com características geográficas e sociais distintas, e avaliar o peso de diferentes factores de risco individual e o efeito de potenciais determinantes do ambiente na distribuição da doença.
Participantes e Métodos: Desenvolveu-se um estudo transversal avaliando uma amostra aleatória de 3022 crianças matriculadas nas escolas primárias públicas das cidades de Viseu e Porto. A informação foi obtida através de um questionário auto-aplicado respondido pelos pais ou encarregados de educação de 897 crianças da cidade de Viseu e 2505 do Porto, tendo 3022 idades entre os 6 e 9 anos. Para o cálculo da prevalência, durante a vida ou no último ano, foi considerada a presença de asma quando havia episódios de dispneia e pieira na ausência de infecção respiratória.
Resultados: A prevalência de asma foi mais elevada no Porto que em Viseu, durante a vida (13,2% vs. 9,8%, p=0,01) e no último ano (7,7% vs. 5,4%, p=0,03). Igualmente, no Porto, observou-se uma variação significativa na prevalência de acordo com a freguesia de residência da criança, entre 8,3% em Miragaia e 28,6% em Cedofeita (no sexo masculino), e 1,8% em Nevogilde e 29,4% em Miragaia (no sexo feminino, durante a vida). Em ambas as cidades observaram-se prevalências superiores no sexo masculino e uma tendência para a prevalência crescer com a diminuição do estatuto social e económico, com a humidade na residência, o tabagismo materno durante a gravidez ou a exposição passiva a fumo de cigarro no domicílio, e ainda uma prevalência significativamente superior em crianças com história materna de asma, que nasceram com baixo peso ou foram expostas a oxigenioterapia no período neonatal. Mesmo após considerar o efeito dessas variáveis, residir em Viseu
associava-se a menor probabilidade de apresentar asma, quer durante a vida (OR=0,62; IC 95%: 0,46-0,85) quer no último ano (OR=0,60; IC 95%:0,40-0,89).
Conclusão: O presente estudo mostrou que as
crianças de Viseu apresentavam um risco de doença cerca de 40% inferior às do Porto e reforça a necessidade de procurar factores ambientais que expliquem esta variação, uma vez que era entre as crianças não expostas aos factores clássicos de risco, como a humidade na casa, a história materna de asma ou a exposição a fumo passivo, que se observaram as diferenças significativas nas prevalências entre as duas cidades.
SUMMARY
ASTHMA IN 6 TO 9 YEAR OLD CHILDREN.
A POPULATION BASED STUDY IN TWO PORTUGUESE TOWNS (PORTO E VISEU)
Objective: To estimate life and last year prevalence of asthma in 6 to 9 year old children living in Porto and Viseu, two Portuguese towns with different geographical and social characteristics, and to evaluate the role of
individual risk factors and potential environmental determinants in disease distribution.
Participants and methods: A random sample of 3022 children aged 6 to 9 years studying in Porto and Viseu public elementary schools was evaluated. Data was obtained using a self-administered questionnaire completed by the children parents or tutors. Asthma was considered when dyspneia and wheezing was present in the absence of upper respiratory infections.
Results: Asthma prevalence was higher in Porto than Viseu, both considering ever (13.2% vs. 9.8%, p=0.01) or last 12 months asthma (7,7% vs. 5,4%, p=0,03). Also, in Porto, a significant variation was observed among city departments of children residence, from 8.3% in Miragaia to 28.6% in Cedofeita, in boys, and from 1.8% in Nevogilde to 29.4% em Miragaia, in girls, regarding life prevalence.
In both towns asthma prevalence was higher in males, and a significantly increasing prevalence was observed with decreasing social class, increasing house dampness, maternal cigarette smoking during pregnancy or number of household smokers. The asthma prevalence was also significantly higher when a maternal history of asthma was present, in low birth weight children or when neonatal oxygen therapy was required. After adjustment for the effect of those significant variables, living in Viseu was associated with a higher probability of asthma, both during life (OR=0.62; IC 95%: 0.46-0.85) and in the last year (OR=0.60; IC 95%: 0.40-0.89).
Conclusion: The present study showed that children living in Viseu presented a 40% lower risk of asthma, and stresses the need for searching environmental factos that could explain these differences, once it was only among children not exposed to classic risk factors (home dampness, maternal history of asthma, in-utero or household exposure to tobacco smoking) that statistically significant differences in asthma prevalence were observed between towns.
Artigo Original Publicado em: REV. PORT. IMUNOALERGOL, 1999.
Como citar: Barros H, Pereira C, Mateus P. Asma em crianças dos 6 aos 9 anos. Um estudo populacional em duas cidades portuguesas (Porto e Viseu). REV. PORT. IMUNOALERGOL; 1999; 7:1.